Sábado, 23 de Agosto de 2025
O agricultor Joaquim Moreira, de 86 anos, da comunidade rural de Antinha de Baixo, em Santo Antônio do Descoberto (GO), recebeu com emoção o certificado de autorreconhecimento de comunidade remanescente de quilombo, expedido pela Fundação Cultural Palmares.
O documento foi entregue no aniversário de 37 anos da entidade, em Brasília, marcando um momento histórico para a comunidade.
Moreira recebeu o certificado das mãos do presidente da fundação, João Jorge Santos Rodrigues, e da ministra da Cultura, Margareth Menezes. “Eu nasci lá”, disse o agricultor.
Mais de 200 documentos como esse foram expedidos nos últimos dois anos beneficiando comunidades pelo país.
Para a Agência Brasil, Joaquim Moreira relatou sua vida na mesma casa, onde aprendeu com seus pais e avós a plantar mandioca, arroz e a apreciar o canavial.
“Antes, crescia mais rápido. Chovia mais. Não faltava água nos córregos lá perto”, relembrou.
O certificado é o primeiro passo para que pesquisadores do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) possam fazer o estudo antropológico a fim de comprovar as origens do povoamento da comunidade.
Os antropólogos do Incra já iniciaram a coleta de materiais sobre a presença centenária no lugar que antes chamavam de “Antinha dos Pretos”.
O certificado também garante a defesa da comunidade e acesso às políticas públicas por parte dos moradores. No caso dessa região, que tem sido alvo de disputa judicial desde os anos 1940, a certificação suspendeu uma desocupação.
“Estivemos bem próximos de perder nossa casa. O certificado nos defende”, explica Willianderson Moreira, liderança e descendente quilombola.
Além da certificação para Antinha de Baixo, a comunidade urbana de Baixa da Xanda, em Parintins (AM), também recebeu o certificado de autorreconhecimento.
“Nossa história é do século 19”, disse a aposentada Maria do Carmo Monteverde, de 86 anos, que cantou uma música para homenagear os pais. “Eu lembro de tudo. Sou uma raiz desse lugar”, afirmou, ao lado da filha, Magali, de 55 anos. “É uma vitória que preserva a memória dos meus avós, bisavós e tataravós”.
O primeiro presidente da Fundação Palmares, Carlos Alves, de 85 anos, presente ao evento, afirmou que a sociedade viverá a “plenitude democrática quando as diferenças desaparecerem”.
A celebração contou com a presença de embaixadores de nações africanas no Brasil, como o de Camarões, Martin Mbeng.
Foi anunciada uma parceria com a Universidade de Brasília (UnB) para uma plataforma de documentação para o sistema nacional de povos quilombolas e de terreiros. Também foi lançada uma cartilha de denúncias sobre conscientização antirracista.
O presidente da fundação, João Jorge Rodrigues, defendeu a luta contra o racismo. Para a ministra Margareth Menezes, as ações de reparação garantem a memória do povo negro e a valorização das obras culturais produzidas por pessoas negras é fundamental para a soberania do Brasil.
"Precisamos fortalecer a salvaguarda dos nossos valores", disse a ministra.